O
rádio estava ligado no volume máximo, tocava alguma música lenta,
daquelas que faz massagem nos ouvidos. Enquanto a melodia vagava pelo
quarto, ela vagava pelo ar. Seus pés mal pareciam tocar o chão, era
uma dança muito mais que lenta, era sentida por todos os seus
músculos e ossos. Uma corrente nascia de seus pés e percorria todo
seu corpo, fazendo-a parecer que flutuava. E flutuava realmente, em
seus pensamentos. No instante, o celular não parava de apitar,
chegavam notificações como chegam os desesperados que muito
anseiam, em completa aflição conturbada. E o som se misturava a
música lenta, colocando um tom a mais a música e um passo a mais a
dança. Porém, muito diferente do computador que fazia uma dança
eletrizante e estática, de movimentos bem uniformes e sem graça,
que nada se comparavam aos movimentos da menina.
Na
sala ao lado havia uma televisão ligada que cantava milhares de
notas aos ouvidos do telespectador deitado ao sofá, que não fazia
ideia da dança de paz que ocorria no ambiente ao lado, mal sabia o
mal que aqueles tons televisivos emitiam. E tudo emitia muito: o
rádio, o celular, a televisão, o homem e a menina. Cada um possuía
suas notas e seus tons, melodias próprias, danças que só eles
conheciam. Cada um emitia vida do modo mais conveniente. E a vida era
simples naquele momento, pois simplesmente era, sem cobrança ou
despesa. Aquele era o momento de soma para cada um, que sempre somava
ao resultado do fim do dia, sendo este momento muito propício para
dormir e se recuperar das subtrações que de nada deveriam valer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário