quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Conexão incorporal


  O rádio estava ligado no volume máximo, tocava alguma música lenta, daquelas que faz massagem nos ouvidos. Enquanto a melodia vagava pelo quarto, ela vagava pelo ar. Seus pés mal pareciam tocar o chão, era uma dança muito mais que lenta, era sentida por todos os seus músculos e ossos. Uma corrente nascia de seus pés e percorria todo seu corpo, fazendo-a parecer que flutuava. E flutuava realmente, em seus pensamentos. No instante, o celular não parava de apitar, chegavam notificações como chegam os desesperados que muito anseiam, em completa aflição conturbada. E o som se misturava a música lenta, colocando um tom a mais a música e um passo a mais a dança. Porém, muito diferente do computador que fazia uma dança eletrizante e estática, de movimentos bem uniformes e sem graça, que nada se comparavam aos movimentos da menina.

  Na sala ao lado havia uma televisão ligada que cantava milhares de notas aos ouvidos do telespectador deitado ao sofá, que não fazia ideia da dança de paz que ocorria no ambiente ao lado, mal sabia o mal que aqueles tons televisivos emitiam. E tudo emitia muito: o rádio, o celular, a televisão, o homem e a menina. Cada um possuía suas notas e seus tons, melodias próprias, danças que só eles conheciam. Cada um emitia vida do modo mais conveniente. E a vida era simples naquele momento, pois simplesmente era, sem cobrança ou despesa. Aquele era o momento de soma para cada um, que sempre somava ao resultado do fim do dia, sendo este momento muito propício para dormir e se recuperar das subtrações que de nada deveriam valer. 



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