quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Associação dos mendigos da rua


  Olhos arregalados, coração acelerado, boca estalando, louco para falar, gritar suas ideias. E assim o mendigo permaneceu do lado de fora do estabelecimento, contemplando a televisão. O político que aparecia era algum, com a mesma pose de algum nessas condições. Os olhares que observavam a mesma televisão estavam discordando e muito. A obra iria acontecer. Mesmo o povo não querendo. Então isso era poder. Era impor, gritar, não ter razão. O mendigo então seria um líder, porém, não daqueles que se vê na televisão, mendigo não aparece na TV, só queles falsos. Ninguém, sabe o que é ser mendigo. Só o mendigo. Faria então a associação dos mendigos. Vamos fazer revolução.
  O mendigo criou regras, estabeleceu um manual, mas tudo passado de fala para fala, mendigo não sabe escrever, Já tinha três seguidores, devia ter mais pessoas fiéis a ele do que aquele tal político. Marcaram uma passeata. Fizeram gritos e cantos. Queriam seus direitos garantidos. Saneamento básico, saúde, alimentação, talvez, educação. Mendigos queriam poder ser professores também. Ou médicos. Tudo menos ator e político. Tudo falso, muito fingimento.
  Marcharam pela rua a dentro, o mundo afora. Mudariam de vida, chamariam atenção, fariam revolução.

  Uma criança passou ao lado “Mamãe, o que esses caras estão fazendo?”. Mamãe puxou forte o braço do filho. “Vamos atravessar a rua, não fique perto desses cracudos”. A noite caiu. O mendigo pegou seus retalhos, empilhou num colchão, deitou. O mendigo dormiu. O mendigo não acordou. Abriu os olhos. 



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