Na idade que tenho já
era de se esperar que eu servisse para mais coisas. Tenho andado no meu limite
ouvindo que não sirvo. Me dizem que eu deveria ser mais prendada. Me dizem que
eu deveria sorrir mais, ser mais agradável, falar mais baixo. Me dizem que não
sirvo para casar, não sirvo para ser esposa, não sirvo para seguir muito do que
me condicionaram a seguir.
Não sirvo mesmo. Não
nasci para servir. Se me obrigam a ser doce, calma e a engolir, eu só tenho a
dizer que nasci livre. Tenho minha raiva, minha preguiça e não engulo: eu
cuspo. Nasci ser humano. Nasci dona de mim e sirvo a apenas uma pessoa: eu
mesma. Os poucos pratos que preparo são os que eu gosto de comer. As coisas que
digo tem o objetivo de me refletir, de me representar. Ai de mim dizer algo que
eu não queira em favor de terceiros! Sou barulhenta, sou espaçosa, sou
desleixada e não me importo. Estou servindo a minha vontade, estou respeitando
o meu bem estar.
Vejo ao meu redor
garotas - futuras mulheres - abaixando a cabeça para servir. Servir aos
namorados, aos padrões, à sociedade. Abaixam a cabeça e, portanto, são
incapazes de olhar para a frente, ignorando o vasto campo de possibilidades à
sua frente. Assim, elas servem. Servem para casar, servem para serem dominadas,
servem aos padrões, à opressão, a tudo, menos a si mesmas. Ah, se elas
soubessem como é não servir! Não ter obrigação para com ninguém! Quem dera elas
soubessem o que é gritar quando precisar explodir, sentir preguiça um dia ou
outro, sentir dor como qualquer ser humano, mas também sentir liberdade, ter
espaço para simplesmente ser. Sinto que preciso gritar, pular na sua frente e fazer
um escândalo para que tirem seus olhos do chão e olhem para frente, olhem para
si mesmas. Mas, assim, estou sendo espalhafatosa. Mulheres espalhafatosas não
servem. Quem quer uma mulher que grita, que fala alto, que não tem modos, que
fala o que pensa? Quem quer uma mulher que não se importa em agradar?
Eu agrado, sim. Agrado
a mim. Minha ironia, minha irreverência, minha essência são o que me tornam
diferente. Em meio à tantas mulheres de cabeça baixa, eu ando de cabeça
erguida, passando por cima de quem tentar abaixa-la. Sei que não estou sozinha.
Lá fora existe uma legião de mulheres livres, que sabem o sabor de simplesmente
ser.
Deixem-nos ser. Deixem
que façamos nossa própria essência. Vivemos enjauladas pela expectativa de
virarmos Barbies perfeitas, mas jamais o seremos. Somos falhas, somos humanas,
somos de carne e osso. Deixem-nos ser humanas e servirmos a quem realmente
precisamos: nós mesmas.
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