quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A moldura

‒ Olha aquele ali. Alto, desengonçado, “mó” cara de débil.
‒ Saca a baixinha de aparelho, parece um jegue com caxumba.
‒ O loirinho, todo peludo! Que coisa estranha... Parece o filho da Chita. Vai comprar gilete, macaco!
‒ A girafa lá. Garota dos infernos!
‒ Acho que esse é o grupo mais bizarro que eu já vi. Cirque de Soleil deve tá procurando.
‒ Ou Lady Gaga, para aumentar a legião do Freak Show.
‒ Saca só, eu acho que eles estão falando da gente.
‒ Da gente?! Mas o que pode ter para falar da gente?
‒ É, nós não temos nada de estranho.
‒ Nada. Absolutamente nada, mas... Será que eles acham a gente estranho?
‒ E quem são eles para achar alguma coisa?!
‒ Sei lá, mas tem um grupo ali...‒ aponta para o lado da moldura. ­‒ Eles parecem legais, e não param de falar da gente.
‒ Onde? Não consigo ver...
‒Ali, atrás da moldura gasta.
‒ Moldura?!
‒ Sim, tem uma moldura logo ali.
‒ Mas o que é essa moldura afinal de contas?
‒ Não sei, vamos até lá pra ver.
Andam até a moldura.
‒ Pra que serve uma moldura?
‒ Bem... AS molduras envolvem obras.
‒ Mas que obra?! Não vejo nada além daqueles garotos estranhos.
‒Veja! O altão está vindo na nossa direção.
‒ Dá um soco nele.
Dá.
O espelho então se quebra.
Os pedaços ficam no chão.
Os estranhos somem da moldura.
Continuam lá.
Um estranho dentro de cada um.

E o monte de risadas surge.


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